sexta-feira, 27 de agosto de 2021

"Sete obras de misericórdia" do Caravaggio

Planeamos muito bem este dia! Ver "Sete obras de Misericórdia" do Caravaggio de manhã e à tarde visitar o Museu Arqueológico. Raramente programamos os nossos dias durante as viagens de férias, mas como este seria o último dia em Nápoles, era imperativo passar por estes dois locais!

Há coisas que acontecem nesta cidade que não consigo compreender! Uma delas é o facto de as pessoas levarem os seus animais de estimação para dentro dos museus! Não percebo de que forma isso iria contribuir para o conhecimento geral dos animais! Também não percebo o motivo das pessoas falarem alto ao telemóvel dentro dos museus, como se estivessem sozinhos! Ninguém merece assistir a novelas auditivas em espaços onde se pretende adquirir conhecimentos sobre a História da Humanidade!


Tal como acontece em cidades turisticamente agitadas, Nápoles amanhece com os trabalhadores a limparem as portas dos seus estabelecimentos. Habitualmente as noites de verão são muito agitadas para os jovens, que por vezes deixam "surpresas" desagradáveis em muitas portas.
Enquanto desenhávamos a mercearia, a cidade compunha-se lentamente, para mais um dia quente, ao som de baterias, de carros e de vespas que circulam nos dois sentidos, por entre o passeio, a estrada e as pessoas.


A Igreja Pio Monte della Misericórdia guarda uma das obras mais espectaculares do Caravaggio, que a olho nú teria muitas dificuldades em analisar! Foi com uma verdadeira mestria que o pintor reuniu as "Sete obras de misericórdia" numa única tela:
    1. dar de comer a quem tem fome
    2. dar de beber a quem tem sede
    3. vestir os nús
    4. visitar os prisioneiros
    5. dar pousada aos peregrinos
    6. visitar e atender os doentes
    7. enterrar os mortos
Embora a igreja tivesse mais obras de pintura expostas, maioritariamente feitas por seguidores do Caravaggio, nós ficámo-nos por aqui, entre o observar, apreciar e compreender o quadro. Foram cerca de 45 minutos partilhados com o Matias, de frente para a obra-mestre, onde a arte e a religião se cruzam num estilo único e inconfundível!

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Castel Saint´Elmo e Simo Capecchi

Subimos o monte no funicular. Foi uma viagem rápida, onde pouco se pôde apreciar a cidade. Mas chegando ao Castel Saint' Elmo, a paisagem é de 360º: a cidade estende-se no seu leito, com o Vesúvio impondo-se à sua frente, enquanto o Mediterrâneo se derrete timidamente aos seus pés e a ilha de Capri se esconde por de trás das suas muralhas. 



No final da tarde descemos para a cidade, atravessando uma escadaria infinita que chegava à casa da Simo Capecchi! Ao longo da descida espreitávamos as vistas por entre as pequenas casas à beira das escadas. Por causa do calor, os moradores permaneciam no seu interior. Só os turistas se aventuravam a subir ou descer as escadarias debaixo de um calor infernal!


Chegar à casa da Simo é como chegar a um porto de abrigo, onde podemos descansar sentados no terraço, rodeados de plantas, sentir o calor bater no rosto enquanto nos embebedamos com água fresca! 
Nós desenhávamos e trocávamos ideias em inglês com a Simo. O Matias enriquecia o seu vocabulário italiano, através dos livros infantis do Marcello e do Tommaso (filhos da Simo). Apaixonou-se pelo "Ariol", de Emmanuel Guibert e Marc Boutavant.


Conhecemos a Simo no Simpósio Internacional USK 2001, em Lisboa. Era instrutora, em parceria com o Cláudio Patanè, também italiano. Sempre discreta. Apenas os seus cabelos grisalhos chamavam a atenção sobre si! Mestre em desenhos verticais e dona de uma linha simples que conta histórias sobre as ruelas napolitanas, onde os turistas dificilmente chegam.
Cruzámo-nos em outros simpósios. Conheci o seu filho Marcello no Simpósio do Porto, em 2018. Era "mais pequeno" do que agora, já com 18 anos e prestes a ir para a Suécia estudar durante 3 anos!

A vida é cheia de surpresas e de maravilhas inesperadas!

sábado, 21 de agosto de 2021

Pompeia

É incrível como um vulcão tenha devastado toda uma cidade! 
Pompeia, virada para o poderoso Vesúvio, não se apercebeu que estava perante um vulcão. Não se protegeu. Não teve como reagir à sua fúria. Julgava-o uma montanha. Pacífica. Imóvel. Dormente.

É obrigatório ir a Pompeia, pisar a calçado do chão, beber a água das fontes, atravessar o anfiteatro e admirar as termas! A cidade é magnífica e merece ser desenhada. Um dia não é o suficiente. Nem para desenhar, nem para apreciar. Uma semana não bastaria. Talvez um mês desse para desenhar apenas uma pequena parte desta cidade maravilhosa.
 

Foi um dia muito quente! Foi difícil encontrar sombras desocupadas. Mas uma vez encontrada, ali permanecíamos os três a desenhar. Sem tempo. Sem stress. Sem preocupações.
De regresso, atravessamos Pompeia (por fora) até chegar à estação de comboios! Caminhamos muito neste dia e o Matias esteve sempre impecável: sem queixas, sem pedidos, sempre bem disposto!

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Muito calor!

Há dias assim, em que não apetece desenhar.

Estavam 34 graus neste dia! Deambulámos pela cidade, a um passo lento, sem a preocupação de encontrar lugares bonitos para serem desenhados. Simplesmente apreciávamos o caminho e observávamos as pessoas que passavam ao nosso lado. Sentámo-nos para almoçar. Foi-nos servido um único prato com massa à bolonhesa, suficiente para nós. Um único prato e três garfos. Fiquei a pensar: será apropriado para esta época de pandemia?

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Novos amigos

A nossa amiga Simo Capecchi vive em Nápoles. Para além de ser uma excelente desenhadora, é um ser humano fantástico! Não tenho palavras suficientes para agradecer a forma como nos acolheu na sua cidade e na sua casa! Neste momento encontra-se com bastante trabalho, mas ainda assim teve sempre tempo para estar connosco, conversar, partilhar ideias, mimar o Matias e cuidar de nós!

Se há coisa na vida a qual devemos dar importância são as pessoas. A família, os amigos e as pessoas com quem nos encontramos.


Conhecer a cidade com quem é de lá não é a mesma coisa que conhecê-la pelos livros e mapas para os turistas. A Simo levou-nos até ao Palazzo dello Spagnolo, que fica fora da baixa de Nápoles. Para chegar até lá atravessámos um mercado ao ar livre e pouco se percebe que chegamos ao destino. No Palazzo dello Spagnolo não havia muitas pessoas a circularem, o que foi óptimo para sentarmos e desenhar tranquilos, sem a preocupação de manter o distanciamento social.
Meia hora depois fomos ter com o Nicolas e a Renata (um casal fantástico) e dirigimo-nos às Catacumbas de Nápoles! Foi impossível desenhar lá, pois fiquei embasbacada com a história do lugar e não quis perder nenhum detalhe do que a guia estava a contar sobre as catacumbas!
A Renata e o Nicolas trabalham em conjunto com a Igreja Santa Maria della Sanità e por isso nos foi permitido subir à parte exterior da copula da igreja! Este foi daqueles lugares que não estão abertos ao público, o que foi um privilégio! De seguida fomos almoçar a melhor pizza de Nápoles!
Depois do almoço a Simo levou-nos a um lugar incrível: umas grutas enormes que foram transformadas em garagem! Custou a acreditar que a mão humana pudesse ter alterado de forma tão brusca e rápida o que a natureza construíu ao longo dos anos! Não é fácil chegar até lá. É sempre a subir e custa ainda mais com 32 graus de calor!
 

Enquanto o Mário estava uma reunião, eu e o Matias fomos com a Simo para a sua casa! O nosso spot favorito da cidade. Não só pela simpatia dos donos da casa, como também pelo terraço com uma vista espectacular para cidade! O facto do Mário se ter atrasado para o jantar, permitiu-me desenhar a tarde toda! Confesso que estava no paraíso: tantos telhados para desenhar!

Entretanto chegou a Leonella, antes do Mário. E quem é a Leonella? Uma amiga da Simo. Na verdade, era sua vizinha de terraço. Durante a quarentena (provocada pela pandemia) tornaram-se grandes amigas e fizeram muitos jantares com outros vizinhos. Cada um no seu terraço, claro. Mas as conversas cruzavam-se no calor da noite até se cansarem. Começou também a desenhar em cadernos. Diz ela que não tem jeito. Mas dissemos-lhe nós que ela já tinha o essencial: um caderno, uma caneta e a mestre Simo! É um excelente começo!

domingo, 15 de agosto de 2021

Nápoles, finalmente!

A pandemia impediu-nos de fazer as viagens territoriais! De enriquecer os nossos horizontes de forma presencial e de criar memórias através do desenho e da escrita! Foram dois anos a adiar viagens de avião e de comboio! Adiámos Nápoles vezes e vezes sem conta! E outros tantos destinos ficaram por se viajar! Mas assim tinha de ser: ficar em casa. Por mim, por nós, pelos outros. Até agora não fomos afectados pelo vírus. Temos tido sempre muito cuidado: usar a máscara no rosto, lavar e desinfectar as mãos e distanciamento social. As duas doses da vacina contra o covid-19 permitiram-nos realizar esta viagem.

Nápoles, finalmente!

Desenhar. Escrever. Ensinar. Aprender. Renovar. Reencontrar. Descobrir. Caminhar.


Chegámos numa quinta-feira! 
Acordámos às quatro da manhã, apanhámos o avião e quando aterramos em Roma, foi sempre a acelerar para cumprirmos os horários dos comboios até Nápoles!
Caminhámos imenso debaixo de um calor infernal! 
O Mário puxava duas malas de viagem, eu puxava uma e com a outra mão puxava o Matias. 



As ruas da cidade são estreitas. Não há distanciamento social. Ninguém usa máscara! Diz-se que praticamente toda a população de Nápoles já se encontra vacina e por isso não é obrigatório o uso da máscara. Quanto aos turistas não sei porque motivo não a usam... o que é certo que só eu, o Matias e o Mário é que usamos máscaras nos rosto! Enquanto desenhávamos, uma portuguesa se encontrava sentada ao nosso lado... sem máscara!

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Mandamento novo

Para além de não conseguir aplicar de forma correcta as dimensões de um rosto, eis o meu drama em desenhar face to face:

1. parar, olhá-lo de perto e ter tempo para estar
2. perceber os pormenores
3. aceitar o que vejo
4. colocar no desenho o que realmente vejo e não o que quero ver
5. deixar que o outro siga as etapas anteriores enquanto me desenha









"Dou-vos o mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, que também vós vos ameis uns aos outros."
Jo 13, 33-35